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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Como você vê?

Clarisse Lispector diz: “Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar”.
 
A forma como a pessoa vê varia de acordo com a situação emocional, espiritual, social. Isto significa que se pode aprender a ver. A gente inicia a vida vendo com os olhos dos outros: dos pais, dos educadores, da igreja, da mídia. O ambiente em que se vive, a educação, a maturidade, a informação, o exemplo, vão capacitando o ser humano para mobilizar a inteligência do olhar.
Dizem que “os olhos são as janelas da alma”.  Os olhos são as janelas por onde se codificam as experiências da vida... A pessoa será ou não feliz dependendo da interpretação que ela dá aos fatos. “Se teus os olhos forem bons...”
Conta-se que um jornalista saiu à procura de algo fantástico para registrar no jornal de maior circulação do seu país. Nem chegou a andar muito e viu as escavações grandiosas de uma obra. Chegou perto de um operário e perguntou-lhe: - O que é isto que vocês estão construindo? E o homem, mal humorado, suando muito, disse: - Não vê que estou preparando um túnel para passar tubulações de esgoto? O jornalista andou um pouquinho mais e viu outro operário trabalhando na mesma obra, assoviando. Aproximou-se dele e viu que ele trabalhava de bom humor e perguntou-lhe: o que é isto? E o homem disse animadamente:- Estamos preparando a estrutura onde vai se erguer um gigantesco e maravilhoso shopping.
 
Fernando Pessoa, diz: “o mundo não é como você vê, o mundo é como você é.” Em versos, ele define a importância do olhar:
 
“Onde você vê um obstáculo,
alguém vê o término da viagem
e o outro vê uma chance de crescer.
 
Porque eu sou do tamanho do que vejo.
 
E não do tamanho da minha altura”.
 
A forma como uma pessoa olha o outro revela não somente o seu grau de espiritualidade, revela a escolaridade e os efeitos do vírus da inveja que se alojou no seu interior. A maior cegueira do ser humano é causada pela contaminação por inveja que é capaz de distorcer imagens, pessoas, fatos, circunstâncias.
 
Depois de um dia muito cansativo Jesus “chegou a Betsaida onde trouxeram-lhe um cego, rogando-lhe que o tocasse. E, tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia; e, cuspindo-lhe nos olhos, e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe se via alguma coisa.E, levantando ele os olhos, disse: Vejo os homens pois os vejo como árvores que andam”. Marcos 8:22-24

Para aquele cego de Betsaida ser curado Jesus cuspiu-lhe nos olhos,  mas por analfabetismo visual, ele via as pessoas “como árvores que andam”. Com certeza, as primeiras lições foram dadas: o Mestre ensinou àquele homem a olhar, mas sobretudo, o capacitou a ver.

Ivone Boechat 

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